Ciência, método e criatividade

Na ciência há pelo menos duas maneiras de conduzir o pensamento. Uma reconhece o fazer científico como ação em busca de respostas, uma prática para a descoberta, para a compreensão do mundo. Nesta perspectiva, invariavelmente há uma premissa oculta: a ideia de que tudo está pronto, tudo é o que é por alguma razão. Portanto, acredita-se em uma causa velada, uma essência não aparente que, ao ser descoberta, explica o estado das coisas no mundo.
Em outra perspectiva (que não exclui completamente a primeira) a ciência pode ser vista como uma ação em busca de soluções. Nesta, a premissa de que tudo está pronto não se sustenta, pois, de fato, soluções não são necessariamente encontradas, são construídas.
No discurso sobre a prática científica, é comum encontrar quem relacione o sentido de resposta e solução indiscriminadamente, sem se dar conta desta diferença. É claro que, para propor soluções, precisamos também encontrar respostas e, não raras vezes, compreender as causas e identificar as propriedades do que pesquisamos.
Contudo, quando privilegiamos o sentido da descoberta a partir de um mundo posto (e neste sentido, pronto) caímos em uma cilada: também acreditamos que existem meios prontos, ideais e universais para pesquisar. Em outras palavras: acreditamos que há um método disponível para cada objeto de investigação e nos deixamos convencer pela falácia do rigor científico*.
Neste viés faço a minha crítica: seja para encontrar respostas ou para propor soluções, não se pode partir do sentido de que os meios (métodos) já existem, já estão prontos. Para a pesquisa científica, a criatividade revela sua dimensão mais significativa neste ponto. Pensar sobre os meios para compreender causas e propor soluções é uma prática eminentemente construtivista e, portanto, criativa. É evidente que não se pode desprezar toda a contribuição já consolidada no campo da Filosofia do Conhecimento e da Metodologia da Pesquisa. Mas isto não significa que os métodos não possam ser revistos ou que não se possa estudá-los e aplicá-los de forma mais aberta e criativa.
Prof. Alejandro Knaesel Arrabal
*Leia também: Esqueça o “rigor científico” (primeira parte) (segunda parte)

9 de agosto de 2013

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