Esqueça o "rigor científico" (segunda parte)

Na primeira parte deste texto, afirmei que a ideia de “rigor” e “obediência” não pode ser privilegiada no discurso sobre a prática da pesquisa. Pretendo desenvolver um pouco mais esta questão. 
Ao longo da vida, em maior ou menor grau, todos nós buscamos certezas, embora saibamos que elas são contingenciais. Semanticamente a certeza aproxima-se de duas outras categorias: verdade e previsibilidade. Creio que seja possível afirmar que a verdade é uma espécie de certeza que se fundamenta no passado (experiência), enquanto que a previsibilidade é a uma certeza que se projeta para o futuro. 
A ciência, nascida da ruptura histórica iluminista, representa uma resposta da racionalidade humana para “desvendar” o mundo, até então explicado por meio dos mitos. Contudo, a crença de que o universo científico detém todas as qualidades para revelar as verdades da existência humana também é um mito. 
Cada vez que evidenciamos o rigor do método científico na tentativa de legitimar as “verdades” obtidas a partir dele, estamos escravizando a mente e fortalecendo o mito. Insisto: é óbvio que o êxito de qualquer trabalho intelectual pressupõe determinação, mas este pressuposto não pode ser confundido com o “rigor”.
Como já disse, “rigor” projeta o sentido de rigidez, qualidade incompatível com a criticidade e a criatividade necessárias à pesquisa. Não é difícil encontrar a palavra “crítica” nos discursos epistemológicos de centenas de manuais publicados nas últimas décadas. Por outro lado, o termo “criatividade” quase inexiste. Hora, será que a criatividade encontra espaço no universo da ciência? Muitos dirão que sim, mas apenas isto. Bom, então precisamos trabalhar este conceito. A palavra não se basta. O significado de “criatividade” não está contido no léxico e a prática da ciência não o evidencia tanto quanto se pode pressupor. 
Abordarei mais sobre este assunto nos próximos dias.
Prof. Alejandro Knaesel Arrabal

23 de julho de 2013

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