Inúmeros manuais de metodologia replicam a ideia de que uma das qualidades (ou requisitos) do conhecimento científico é o rigor metodológico. Insistem em afirmar que a ciência só se concretiza mediante a obediência rigorosa a determinados padrões e procedimentos (método). Neste cenário distingue-se o pensar científico do pensar cotidiano.
Quero afirmar enfaticamente que não concordo com este discurso. Preciso esclarecer: não se trata de uma recusa à racionalidade científica. Trata-se de uma crítica a esta abordagem que, ao adjetivar a ciência e o método, evidencia o “rigor” e a “obediência”. Esta terminologia projeta no imaginário acadêmico, principalmente para os iniciantes na prática da pesquisa, uma visão determinista, elitista, escravocrata e fragmentadora do conhecimento científico.
Observe com atenção: a palavra “rigor” projeta o sentido de rigidez, portanto, algo inflexível e imutável. A palavra “obediência”, por sua vez, projeta o sentido de algo já posto, algo a que devo me sujeitar. Portanto, dito desta forma, o discurso qualificativo da ciência revela uma sujeição extenuante, onde cabe ao pesquisador apenas seguir regras e procedimentos.
Neste discurso, o mundo já está pronto. Os meios já foram projetados e estão descritos nos “manuais”. Pesquisar é apenas desvendar o que já há. Tudo está posto, inclusive os meios, métodos, o como agir, o como fazer, basta selecioná-los. Pesquisar é descobrir o que eu na minha infinita insignificância desconheço. Ao descobrir, me aproprio do que há, e assim, me torno alguém “conhecedor”, alguém diferente, alguém que é mais do que os demais. Em parte não é esta a leitura pretendida por muitos, mas temo que seja a mais propagada e praticada.
Nesta visão há uma redução significativa da liberdade, criatividade e autonomia que, acredito, sejam aspectos fundamentais para o desenvolvimento do conhecimento científico crítico.
Prof. Alejandro Knaesel Arrabal
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