Competências para a Construção do Conhecimento Científico

Prof. Alejandro Knaesel Arrabal

Neste breve texto abordo três competências que, acredito, são indispensáveis para a construção do conhecimento científico: compreender, descrever e argumentar.


1 COMPREENDER (COGNIÇÃO)

“Compreensão” pode ser entendida como o resultado obtido a partir da percepção atenta, intensa e plural da realidade (Cognição).

Vivemos um momento em que somos inundados por informações e, aparentemente, não temos “tempo” para “pensar”. Aliás, por ser um tanto “trabalhoso”, há quem não queira pensar e prefere soluções rápidas e imediatas. Em uma sociedade que valoriza o fast food, a cultura push-button e tantas outras comodidades instantâneas, precisamos constantemente revitalizar nossa condição cognitiva.
Para compreender, é necessário considerar que:

(A) Toda informação apresenta certo grau de parcialidade. Ou seja, “é impossível dizer tudo a respeito de algo”.

(B) A compreensão é refém de distorções do processo de comunicação.

(C) Existem variações de percepção (ponto de vista, tempo, lugar, entre outras). Sobre este assunto, consulte também "O Processo Cognitivo  - parte 1 - parte 2 - parte 3".
Quando passamos a reconhecer os fatores acima mencionados, percebemos que a compreensão exige tempo.
Sempre que possível, tente se colocar na “condição do outro” para “entender o discurso”.

Lembre-se: “só quem passa pelo que o outro passou entende o que ele quer dizer”.

2 DESCREVER

Descrever é o ato ou efeito de relatar, explicar algo, contar pormenorizadamente. Descrição pode ser  entendida como a “enumeração de parâmetros quantitativos e qualitativos os quais buscam fornecer uma definição de alguma coisa.” (WIKIPEDIA, 2010).

Sugiro neste momento a seguinte indagação: é fácil descrever?

Acredito que para tentar descrever algo adequadamente é necessário:
(a) compreender o objeto descrito;
(b) ter o domínio da linguagem. A linguagem é qualquer sistema ou conjunto de sinais convencionais, fonéticos ou visuais, que servem para a expressão dos pensamentos e sentimentos. O seja qualquer, sistema de símbolos instituídos como signos ou códigos.
A ciência dos sinais é conhecida como semiologia. Para a linguística, compreende o estudo das variações de significação das palavras.
Um signo pode ser uma palavra, uma imagem ou uma expressão. Os signos sempre são associados a determinados significados.

No âmbito da linguística, o signo compreende o léxico, o  conjunto de palavras usadas em uma língua ou em um texto.  Já a semântica é o significado(s) atribuído(s) a palavra.
Ao tentar descrever (explicar algo) é necessário considerar:

- A carga semântica empregada às palavras. Ex: as palavras vida, amor, justiça, apresentam uma carga semântica muito forte. Representam, para muitos, valores de grande importância. Normalmente propiciam a construção de “discursos vazios”;

- As variações léxicas e semânticas presentes no discurso.
Campo semântico: é o conjunto dos significados, dos conceitos que uma palavra possui. Uma mesma palavra pode assumir vários sentidos, os quais são normalmente reconhecidos de acordo com o contexto abordado.
Ex: a palavra nota apresenta um campo semântico amplo: anotação, cédula, som musical, atenção.
Campo léxico: é o conjunto de palavras que compartilham do mesmo significado. Ex: a parte autora em um processo é um sentido que apresenta um campo léxico muito amplo: autor, demandante, requerente, impetrante, suplicante, exequente ... Variações léxicas e semânticas devem ser evitadas por tornar o discurso inconsistente.

- As associações léxicas e semânticas presentes no discurso. Normalmente ocorrem em decorrência do emprego de analogias. Propiciam a construção de falsos argumentos (veja também o ensaio sobre falácias). Ex: A família é o pilar da sociedade. Logo, a família e importante.
Entender variações e associações semânticas/léxicas contribui para o domínio do argumento.

3 ARGUMENTAR

A estrutura básica de um argumento pressupõe a associação de um conjunto de premissas que levam a uma conclusão.
(a) Premissa(s) – afirmações aceitas como verdadeiras

(b) Associação das premissas

(c) Conclusão
Um argumento não se confunde com uma opinião. Na opinião, não há preocupação com justificativas ou fundamentos. Não há compromisso com a comprovação do que se está afirmando.
Do ponto de vista lógico formal, um argumento é válido desde que as premissas sejam aceitas como verdadeiras e a relação estabelecida entre as premissas seja consistente.

26 de julho de 2010

1 comentários:

Jailson MF disse...

Professor, vou acrescentar uma contribuição que copio do filósofo francês Jean-Paul Sartre, que bem pode ser utilizada em suas aulas "Compreender é modificar-se".
ATT. Jailson Marangoni - aluno 7ª fase Direito
Autor do blog http://mundointerrogado.blogspot.com