A patologia da objetividade

Quando falamos em objetividade, normalmente nos referimos ao sentido de clareza e concisão que favorece ao entendimento de algo. Assim, é comum estabelecermos esta associação: clareza-concisão-objetividade. Mas será que a objetividade realmente oportuniza clareza e entendimento?
Por traz do sentido de objetividade se esconde uma forma limitada de perceber o mundo. É claro que nenhum ser humano pode saber tudo de tudo. Mas a objetividade invariavelmente pode oferecer pouco. Não me entenda mal. Não quero defender discursos prolixos ou ensaios enciclopédicos. Reconheço que há situações onde o menos é mais. Contudo, a objetividade conduz a uma “parcial clareza”, ou melhor, uma “clareza a partir da parcialidade”.
Atribuímos clareza a tudo que pode ser dimensionado (limitado). São claras e verdadeiras todas as coisas dotadas de fronteiras e contornos perceptíveis. É assim que identificamos e, principalmente, idealizamos “Objetos”. Pode-se dizer que o Objetivismo é uma espécie de ideologia da construção de Objetos, de entidades que podem ser claramente descobertas e descritas, desde que se saiba como – que se disponha de um método.
Considerar que todas as representações, todos os elementos e todos os fenômenos da existência são Objetos é reconhecer, implicitamente, que tudo pode ser metodologicamente dimensionado, quantificado, valorado, permutado e, principalmente, controlado.  Marcuse, citado por Habermas (1970, p. 49) afirma que “o método científico, que levava sempre a uma dominação cada vez mais eficaz da natureza, proporcionou depois também os conceitos puros e instrumentos para a dominação cada vez mais eficiente do homem sobre o homem, através da dominação da natureza”.
Neste sentido, o incansável labor da Ciência em busca de verdades, certezas e segurança é, ao mesmo tempo, o substrato que fundamenta a legitimação de controles. A sociedade atual, ao pensar o mundo a partir do pressuposto da objetividade, clama cada vez mais por mecanismos de controle, embora paradoxalmente reivindique também o amplo (e irrestrito) exercício das liberdades individuais.
O mundo exige a redução das desigualdades sociais, o fim das guerras e a preservação do meio ambiente. Porém, se insistirmos em pensar apenas “objetivamente” – porque temos pressa, porque tempo é dinheiro – não conseguiremos chegar nem perto da solução destes problemas. Concordo com Morin quando afirma que o pensamento reducionista, limitado e, neste sentido, mutilador, “[...] conduz necessariamente à ações mutiladoras.” Para não nos mutilarmos, precisamos encontrar meios de pensar além da objetividade.
Prof. Alejandro Knaesel Arrabal
Palavras-chave: Objetividade. Objeto. Objetificação. Objetivismo.
Referências:
MORIN, Edgar. Introdução ao pensamento complexo. 4. ed.  Porto Alegre: Sulina, 2011.
HABERMAS, Jürgen. Técnica e ciência como ideologia. Lisboa: Edições 70, 1970.

25 de setembro de 2014

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