Ao escrever textos científicos é importante considerar a adequação do estilo (forma) ao propósito comunicativo. Por exemplo, não é comum um fato científico ser narrado em forma de “Repente” (me refiro à trova do folclore brasileiro) ou anedota - não que estas manifestações não sejam possíveis.
A questão é que o propósito comunicativo da música é normalmente o entretenimento, assim como o propósito das piadas é provocar o riso, aspectos que originariamente destoam da ciência por sua pretensa objetividade e caráter verossímil. Neste sentido sustenta-se a recomendação de evitar o emprego de figuras de linguagem, estilos poéticos e/ou retóricos em discursos científicos. Mas atenção, esta não é uma regra que se deva seguir de maneira absoluta.
Precisamos ter liberdade para desenvolver criativamente a comunicação. Mas isto também não significa que estamos autorizados a legitimar o discurso científico apenas por meio de instrumentos lúdicos. Em outras palavras, não podemos aceitar tudo que se apresenta pela via do espetáculo.
O fundamental é compreender as diversas dimensões possíveis da relação entre a forma de expressão e o propósito comunicativo. Afirmar que a criminalidade brasileira alcança “tristes estatísticas” ou que a corrupção é uma “praga” social pode ser um erro, sempre que o argumento permanecer limitado à metáfora em si, ou a ênfase do discurso esteja centrada na metáfora.
Ou seja, afirmar que as estatísticas são tristes e que a corrupção é uma praga e “ponto”, não é suficiente. Precisamos dizer mais e melhor a fim de revelar as causas dos fenômenos descritos e propor respostas consistentes. A ênfase desmedida no emprego de expressões imagéticas, superlativos e a adjetivação que por vezes “adorna” o argumento de autoridade, são normalmente recursos retóricos que pouco ou nada agregam qualitativamente ao texto científico.
Prof. Alejandro Knaesel Arrabal
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