A importância de formular perguntas: por uma dialética da criticidade

Há muito tempo estou convencido da importância do hábito de formular perguntas (questionamentos) para atingirmos uma condição intelectual mais articulada e autônoma. Contudo, compartilhando este assunto com alunos constatei que a ideia sobre o que é “construir uma pergunta” vai além do fato de elaborar frases interrogativas. Tentarei explicar um pouco mais este ponto de vista.  
Diariamente todos nós formulamos perguntas mentalmente. Afinal, o cotidiano oportuniza situações onde dúvidas e questionamentos surgem de forma intuitiva. Mas isto, por si só, não é suficiente. Quem de nós já dedicou alguns minutos ou até horas analisando (pensando) como estas perguntas foram elaboradas? Quais os fatores (premissas) que determinaram a sua formulação?
Creio que esta prática, ou seja, pensar sobre o "como" e o "porquê" construímos determinados questionamentos é infelizmente pouco exercida. Pensar sobre as perguntas é tão ou mais importante do que fazer as perguntas. Por exemplo, se eu pergunto “como posso encontrar um problema de pesquisa?”, parto da premissa que o “problema” está disponível em algum lugar e, portanto, pode ser encontrado. Reconheço que o problema é algo externo a mim (assim como a resposta). Por outro lado, o sentido de que um problema não está pronto, mas pode ser construído, não passa pelo filtro desta pergunta. Esta possibilidade fica afastada do “olhar crítico”, sequer será considerada, simplesmente porque a pergunta foi formulada a partir de uma determinada maneira de ver o mundo. Lembre-se: assim como não existem afirmações isoladas de contextos, também não existem perguntas desvinculadas de contextos. Neste sentido, sempre que formular uma pergunta, pense também no contexto a partir do qual ela é delineada.
Outro ponto que considero importante trabalhar é sobre as respostas. Quero destacar a relevância que existe na prática de exercitarmos respostas a partir da "bagagem" que cada um de nós tem. Aqui, o tradicional discurso científico dá “um tiro no pé”. 
Quando professores insistem em afirmar que o aluno deve fundamentar o trabalho de pesquisa a partir de um mundo de citações, se esquecem de dizer que fundamentar não é apenas citar. Esta absoluta reverência à consistência pressuposta da autoridade, oprime o pesquisador iniciante que, de duas uma: ou entra na ciranda da repetição do discurso posto ou passa a acreditar que a pesquisa científica é um mundo muito distante do seu. 
Ao colocarmos o rigor científico em primeiro plano, paradoxalmente atribuímos à ciência uma maldição: ser instrumento dogmático encastelado incapaz de lidar com o que está fora de seus limites. Precisamos valorizar mais o pensar, a filosofia e a criatividade, obviamente reconhecendo que o pensar de cada um é resultado de uma vivência que dialoga com outras vivências, sem armaduras, sem dogmas. Por isto não admito métodos inquisitoriais de avaliação, não acredito na autoridade pressuposta do "grande doutrinador" e não aceito a forma estigmatizante como muitos se referem a erros gramaticais alheios
A criticidade é um eterno diálogo entre o conhecimento dado e o conhecimento que somos capazes de construir e desconstruir. Creio que a oportunidade para a dialética da criticidade só acontece em um ambiente de liberdade e respeito à diversidade intelectual, onde aqueles que dizem pouco saber, digam o que sabem, e aqueles que afirmam muito saber, humildemente ouçam e compartilhem.

Prof. Alejandro Knaesel Arrabal

16 de setembro de 2013

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