Interpretação e linguagem: a parábola dos cegos e do elefante

Há uma parábola (dita indiana) muito difundida em publicações variadas e diversos sites na Internet. Ela descreve um recorrente fenômeno de interpretação. Apresentada em diversas versões, basicamente se reporta a seis cegos que, nunca tendo conhecido um elefante, aproximaram-se dele para conhecê-lo. Cada qual o interpretou e descreveu a seu modo.
Ao tatear o denso e grande corpo do bicho, um dos cegos afirmou tratar-se de um animal parecido com uma muralha. Outro, considerando as presas de marfim, disse que era uma poderosa máquina de guerra com enormes lanças. Ao segurar a tromba, o terceiro afirmou ser um animal semelhante a uma cobra. É uma árvore! exclamou outro cego ao tocar uma das pernas roliças do animal. Atingido pelo fino rabo, o quinto cego considerou que ele era um portador de cordas. O último afirmou tratar-se de um equipamento de refrigeração com enormes leques ao perceber as grandes orelhas do elefante.
Moral da história: Todos estavam parcialmente corretos e, ao mesmo tempo, completamente errados. Aparentemente esta mensagem é simples, mas sugere reflexões epistemológicas de maior relevo.
As analogias empregadas por cada um dos cegos mostram-se coerentes do ponto de vista do senso comum. Para muitos não é difícil aceitar a afirmação que o corpo do elefante se assemelha a uma muralha, as presas a lanças, a tromba a uma cobra e assim por diante. Neste sentido, consideradas isoladamente, cada afirmação pode ser aceita como “correta”. 
Mas atenção: para descrever as partes do elefante, cada cego recorre a uma analogia específica. As partes não são descritas a partir de qualidades próprias, mas a partir de qualidades “emprestadas”. Ao afirmar que as presas do elefante se assemelham a lanças, a tendência imediatamente é transportar os demais atributos da lança para as presas. Na sequência, a partir de um processo de generalização, as qualidades das presas (lanças) levam a outra transposição: reconhecer o elefante como uma “máquina de guerra”. Analiticamente este é o raciocínio do primeiro cego. As analogias, assim como as metáforas, são mecanismos muito importantes para o desenvolvimento do raciocínio e da linguagem. Contudo, precisamos estar atentos ao seu emprego para não incorrermos em erros grosseiros nas nossas conclusões.
Em outra perspectiva, a afirmação que todos os cegos estão completamente errados emerge da constatação de que a descrição das partes não corresponde necessariamente ao todo. Constatações parciais ou superficiais, quando generalizadas, normalmente levam a equívocos. É claro que seria muita pretensão afirmar que é possível descrever objetos ou fenômenos em sua integralidade. Toda interpretação é formulada a partir de pressupostos (premissas) e toda a conclusão é inexoravelmente parcial em decorrência destes pressupostos. Não se pode dizer qualquer coisa sobre algo, assim como também não é possível dizer tudo sobre qualquer coisa. 
Prof. Alejandro Knaesel Arrabal

26 de julho de 2013

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