Ciência: horizonte do real ou do ideal?

Horizonte é provavelmente uma das palavras mais empregadas por filósofos e cientistas. Um tipo de metáfora paradoxal que sugere a vastidão do conhecimento, ao mesmo tempo em que remete a uma linha divisória entre o perceptível e o imperceptível. Visto desta forma, o horizonte é um marco de disjunção, uma fronteira entre o que se sabe (ou o que se pode saber) e o que está para além desta possibilidade.
Há quem diga que esta linha divisória é inalcançável, já que o horizonte só pode ser percebido a certa distância do observador. Contudo, não só desejamos alcançar o horizonte, mas também acreditamos que seja possível ir além. É neste momento que a Ciência rende-se ao idealismo e revela-se como ideologia. Por meio da Ciência desejamos desvendar a existência. Infelizmente, nesta trajetória confundimos idealismo com arrogância. Acreditamos cegamente que estamos autorizados a saber mais e mais, para além dos limites do presente (e a qualquer preço). Acreditamos que somos capazes de revelar a verdade do universo independente de nossa própria existência.
Idealizar (sonhar) é importante (ter os pés no chão também), mas é necessário pensar sobre as consequências de nossos discursos e nossas ações no plano da Ciência e da Técnica. É preciso colocar sob suspeita afirmações supostamente desprovidas de valores. A realidade da Tecnociência é sempre uma “realidade projetada”, portanto, idealizada. Não se trata apenas de desvendar o que existe para além do horizonte e tentar descobrir os segredos do universo. "Conhecer é produzir uma tradução das realidades do mundo exterior [...] somos produtores do objeto que conhecemos; cooperamos com o mundo exterior e é essa coprodução que nos dá a objetividade do objeto", explica Morin (2011, p. 111)
Ao pensar e agir cientificamente o homem transforma o meio e modela a realidade. Todo o relato de uma descoberta é uma projeção idealizada de mundo. Assim, a verdade “revelada” não deixa de ser uma verdade “construída”. A vida é um horizonte de possibilidades de idealização e consequente construção de múltiplas realidades. Toda descoberta é um horizonte de construção de sentido.
Prof. Alejandro Knaesel Arrabal

Referência
MORIN, Edgar. Introdução ao pensamento complexo. 4. ed. Porto Alegre: Sulina, 2011.

18 de dezembro de 2014

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