A monografia e a opinião: “o retorno”

Há um assunto que considero fundamental relacionado à elaboração do Trabalho de Conclusão de Curso: é possível apresentar opiniões no TCC? Afinal, o que se espera do TCC, o que ele pode ou não pode conter?
É muito natural para o iniciante à pesquisa científica formular estas indagações. Isto não significa que veteranos estejam imunes a elas. Já faz algum tempo que sustento o entendimento que opiniões são, em regra, afirmações desprovidas de fundamento. Neste sentido, opiniões equivalem a “afirmações vazias”. 
Contudo, para muitos alunos da graduação, “opinião” é uma palavra que remete ao sentido de algo próprio, uma convicção ou convencimento pessoal. Opinião seria assim um produto de valor “autoral”, em contraposição a mera reprodução de conteúdos. 
Neste sentido é necessário tecer alguns esclarecimentos sobre o que é uma convicção ou convencimento pessoal. Todas as pessoas carregam com sigo uma rica carga de (pré)conceitos, (pré)juízos e (pré)compreensões, formada a partir da dialética indivíduo/sociedade. 
Em maior ou menor grau somos capazes de formular conclusões sobre vários assuntos a partir do raciocínio. Trata-se de um processo mental amparado na lógica, onde estabelecemos relações entre vários conteúdos aplicando critérios de equivalência e discriminação. Com base no raciocínio (na razão), boa parte de nossas convicções sobre o mundo são sustentadas e podem ou não ser demonstradas aos demais. É neste plano que a objetividade científica se estabelece.
Porém, há outra parte de nossas convicções que são de ordem singular, (individual, subjetiva) como, por exemplo, certas preferências e juízos de valor pautados em desejos e paixões. A princípio, as convicções singulares não se prestam a demonstrações e/ou comprovações a fim de que sejam aceitas (compartilhadas) por todos e, portanto, não se enquadram no contexto de legitimação universalizante da ciência. A ciência é um modelo racional comprometido com a objetividade, ou seja, com a determinação do que pode coletivamente ser tido como certo, válido e, em última instância, verdadeiro. 
De fato, a fronteira entre o individual e o coletivo, entre o subjetivo e o objetivo não é absoluta. Isto porque, por exemplo, sempre que nos apropriamos de algum conhecimento ou firmamos algum convencimento, o fazemos a partir de nossa vivência social. Contudo, isto não é motivo para cairmos na falácia da relativização ou da objetivação em graus extremos.
Portanto, afirmo que sim, é possível (diria até desejável) apresentar afirmações (obviamente não tidas como absolutas) em Trabalhos de Conclusão de Curso. Porém, elas devem ser acompanhadas de fundamentos pautados em uma racionalidade que possa ser compartilhada, ou seja, potencialmente aceita pelos demais. Funciona como uma espécie de comunhão de convencimentos, cuja base é a razão. Em outras palavras, no TCC não há lugar para opinião (entendida como expressão da singularidade subjetiva), mas é certamente lugar para argumentação.
Nos próximos dias pretendo explicar mais detalhadamente o que se pode entender por “fundamento”.
Prof. Alejandro Knaesel Arrabal

27 de setembro de 2013

0 comentários: