Há quem afirme que certos temas de pesquisa não podem ser tratados na graduação. Seja em razão do grau de complexidade ou do caráter inovador, eles estariam, por assim dizer, reservados a níveis mais elevados de produção acadêmica, leia-se: dissertação de mestrado ou tese de doutorado.
Creio que esta afirmação está ancorada em pressupostos que precisam ser repensados. Um deles é a ideia de que os temas de pesquisa são como produtos prontos, catalogados, etiquetados e divididos em diversos departamentos - uma espécie de megastore do conhecimento. Assim, neste mercado do saber há de tudo, mas cada produto (tema) está em um setor específico. Lá pode-se encontrar a seção dos temas fáceis, outra dos temas difíceis, outra dos específicos, outra da multidisciplinaridade, outra, outra e mais outra…
Ocorre que a segmentação do conhecimento (recorte, delimitação, etc.) não é algo que deva ser visto como pronto e acabado. Ela representa um aspecto do desafio à ser enfrentado por todos que pretendem vivenciar a pesquisa (da graduação à pós-graduação) pois, é claro, não se pode saber tudo de tudo. Neste sentido, pesquisar não é apenas desvendar, mas, ao mesmo tempo, construir e modelar. O que resulta deste processo é sempre algo provisório. Nem mesmo as ciências empíricas podem fugir da dimensão criativa e contingente que permeia o pensamento.
Classificar e segmentar são aspectos que fazem parte do jogo simbólico do pensamento, da linguagem e da comunicação - refiro-me ao conhecimento enquanto processo - mas de forma alguma devem ser encarados como atributos indeléveis de um saber pretensamente universal. Prega-se (equivocadamente) que verdade e certeza são valores absolutos. Em nome destes valores, muitos encaram os diversos saberes como unidades monolíticas. Assim, replica-se insistentemente a ideia do conhecimento como algo departamentalizado e hierarquizado. Basta observar os manuais de metodologia. Mesmo em edições mais recentes ainda se encontra o discurso propedêutico da “classificação do conhecimento” que separa a razão da emoção e afirma que o saber científico é o único capaz de revelar a verdade (quanta pretensão!). Nesta perspectiva, há saberes que “valem mais” do que outros. Eis a matriz da hierarquia do conhecimento que serve como base para aceitar que há pessoas que sabem mais do que outras, que existem estratos de conhecimento mais elevados do que outros. Creio que estas afirmações não passam de julgamentos exclusivamente quantitativos, superficiais, pífios e discriminatórios.
Embora o pensamento unidimensional e excludente ainda assombre a intelectualidade humana, o século XXI aponta para a necessidade de lidar com a diferença de saberes de forma plural, inclusiva e emancipadora. Portanto, não creio que existam temas reservados (próprios) para determinados níveis acadêmicos. A questão implica muito mais em avaliar as possibilidades e potencialidades de que dispõe o pesquisador em dado momento e lugar, do que partir para prejulgamentos sobre o que é ou não é “adequado” pesquisar na graduação.
Prof. Alejandro Knaesel Arrabal
Foto: www.pixabay.com
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