Interpretar é uma ação voltada para o entendimento, uma busca do sentido das coisas, da compreensão. O tema parece simples, mas não se engane. A interpretação é um processo denso de grande amplitude e complexidade. Sobre este assunto emergem várias questões, por exemplo: é possível dizer como as coisas realmente são? O sentido das coisas está nelas ou na mente de quem as vê?
Vou apresentar dois trabalhos que costumeiramente são rotulados como “ilusões de ótica”. Embora esta expressão esteja no título deste post, atualmente não considero este “rótulo” adequado. A palavra ilusão, de certa forma, valoriza o sentido do “não real”, do erro, da falha. Creio que o entendimento do fenômeno ótico pode nos apresentar ensinamentos importantes sobre a compreensão e a interpretação que vão além da constatação do “ilusório”.
Observe a imagem abaixo e responda a seguinte questão: a bailarina está girando para a esquerda ou para a direita?
Fonte: http://www.procreo.jp/labo/labo13.html
Esta obra foi criada pelo designer japonês Nobuyuki Kayahara. A partir da visão, o movimento dos objetos e sua direção são distinguidos por meio da incidência de cores, luz e sombras que envolvem o objeto observado. Este conjunto de informações sensoriais é indispensável para estabelecermos a direção do movimento. No caso, a bailarina é apenas uma silhueta sem detalhes que não permite percebê-la tridimensionalmente. Sem essas informações, o cérebro resgata registros anteriores do que poderia ser o giro de uma bailarina, de modo que “mentalmente reconhecemos” o movimento para uma ou outra direção.
Perceba a ambiguidade com o esquema abaixo:
Assim, ambiguidades, imprecisões e obscuridades se impõem sempre que houver carência de informações sobre determinado fenômeno.
Agora observe esta imagem criada por Edward H. Adelson e responda: no tabuleiro, o tom de cinza do quadrado “A” é o mesmo do quadrado “B”?
Fonte: Perceptual Science Group - MIT |
Provavelmente a maioria das pessoas interrogadas diria que os tons de cinza são diferentes. Contudo, isoladamente, os quadrados apresentam exatamente o mesmo tom. Duvida? Veja este vídeo.
Neste caso, a diferença é estabelecida pelo contexto. A sombra projetada pelo cilindro é determinante para que a diferença se imponha ao observador. Sem o contexto, sem a sombra, a diferença não existe. Ao interpretarmos devemos nos dedicar a observar, não apenas objetos e fenômenos isoladamente, mas também investigar detalhadamente o contexto, bem como avaliar de que forma o contexto determina as qualidades e características do objeto investigado. Nada é “algo” sem contexto. Ninguém é “alguém” sem contexto. Não existe uma essência universal das coisas como especulavam os filósofos da antiguidade. Na ótica, as cores e tons dependem da luminosidade do ambiente. Nas relações sociais, o belo, o útil e o justo só se impõem a partir de um emaranhado e complexo contexto sociocultural. É na relação entre objeto e(no) ambiente, entre sujeito e(na) sociedade que o sentido se revela.
Prof. Alejandro Knaesel Arrabal
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