Método: construção, escolha ou adivinhação?

Durante muito tempo o assunto “método de pesquisa” provocava em mim certa insatisfação. Não me convencia com a ideia de simplesmente apresentar aos alunos a descrição dos diversos métodos propostos pela vasta e diversificada doutrina. Apenas conhecer os enunciados sobre o que é o método indutivo, dedutivo, hipotético dedutivo, histórico, dialético e tantos outros, parecia nunca revelar importância. Sentia que algo estava errado sobre o que atualmente denomino “exercício de adivinhação do método”. Observei que, ao elaborar projetos de pesquisa, alunos tentavam “adivinhar” qual método deveriam mencionar, limitando-se a descrever conceitos sem perceber a efetiva relação com o fazer pesquisa. Em bancas de TCC, na ausência de descrição metodológica clara, professores vezes discutiam e determinavam o “método” que o aluno adotou. Neste contexto percebi o problema. Se o método é a descrição do “como fazer” e explicar “como foi feito” é algo necessário para validar os resultados da pesquisa, o “método” não é algo que pode ser simplesmente “adivinhado” pelo pesquisador, ou mesmo apontado pelo avaliador. 
Entendo que o professor não deve impor um método ao aluno, ou mesmo afirmar “você adotou o método X”. É o aluno, ou melhor, o pesquisador que deve descrever “como fez a pesquisa” e, com esta descrição, demonstrar a consistência dos resultados que obteve. Neste contexto, consistência significa: dados e argumentos que possam ser aceitos. O avaliador, orientador ou membro de banca, aceita ou não as conclusões que aluno apresenta, no contexto de “como ele fez” a pesquisa, ou seja, no contexto do método proposto. Assim, usando uma analogia popular, o Método é uma "trilha" e não um “trilho”. 
Estou convencido que o erro em não compreender a importância do “método”, especialmente para os iniciantes na pesquisa científica, está na persistente passividade e no consequente “exercício de adivinhação”. Ou seja, acreditar que os métodos estão prontos e disponíveis como um grande catálogo de ferramentas. Esta visão “pré-concebida” e “pré-formatada” dos métodos, neutraliza um dos aspectos da atividade de pesquisa onde mais se pode contribuir criativamente: a “proposição do método” como construção. Não me entendam mal. Ao sugerir que é preciso “construir o método”, não estou desprezando toda a base teórica disponível na literatura sobre o assunto. Estou apenas propondo uma mudança de ponto de vista. Só conseguimos perceber a importância e a dimensão concreta da filosofia, da ciência e do método após um esforço significativo de reflexão e descrição de como pesquisamos, de como obtemos recursos e os estruturamos na tentativa de encontrar respostas consistentes às indagações da pesquisa. 
Prof. Alejandro Knaesel Arrabal
Foto: pixabay.com 

4 de março de 2013

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