Ou seja, ainda que o autor descreva com suas palavras os argumentos, fatos ou informações alheias, sob o rigor da cientificidade, ele deverá ser fiel ao sentido original. Note que o fato de adequar o texto original às novas orientações gramaticais, ao meu ver, não transforma a citação direta em uma paráfrase. Paráfrases são construções textuais próprias, mas que trazem em si o conteúdo obtido de outra fonte. Portanto, me parece adequada a seguinte orientação de Medeiros (2002, p. 194, 200 apud MEDEIROS, 2007, p. 12):
A transcrição não é como uma prova de um crime que não admite nenhuma interferência, para não perder a validade. Excetuando-se poucos casos em que a manutenção da ortografia é necessária, mantê-la desatualizada ou com erros grosseiros de revisão [...] é ocupar-se com a difusão de uma forma obsoleta que nenhuma informação acrescenta à elucidação do texto. Há casos em que a grafia original justifica-se, como, por exemplo, a transcrição de poemas medievais. Autores da área de Direito, talvez em virtude da formação acadêmica e profissional, fazem questão de transcrições fiéis ao original, como as de constituições antigas, textos de doutrina de autores igualmente antigos. [...] Se há erros gramaticais no texto original, o autor pode, ao transcrevê-lo, usar entre colchetes a palavra [sic] logo após a ocorrência [...]. São possíveis pequenos acertos, desde que a forma original não seja indispensável. [...] Se a transcrição tem em vista o conteúdo, não a forma, tais acertos podem ser realizados. [...] O autor deve acrescentar uma nota, esclarecendo o texto, ou com a adaptação ortográfica.
Do exposto, objetivamente considero que há duas hipóteses válidas para a questão. Pode-se optar pela integridade absoluta do texto, mantendo a redação original e adicionalmente acrescentar observações ou comentários entre colchetes, ou promover os ajustes do texto com base na nova orientação ortográfica, desde que estas alterações não comprometam o sentido do texto.
Prof. Alejandro Knaesel Arrabal
REFERÊNCIA
MEDEIROS, Nilcéia Lage de. Fórum de normalização, padronização, estilo e revisão do texto científico: perguntas, respostas, discussões e questionamentos sobre ABNT, teses, dissertações, monografias, livros, artigos científicos. Edição comemorativa da Editora Fórum para o Dia dos Bibliotecários. Belo Horizonte: Fórum, 2007. (disponível online em: http://www.editoraforum.com.br/sist/diabiblioteca/ebook_bibliotecario1.pdf)
6 comentários:
Cara, era exatamente isso o que eu procurava! Alguém ou alguma publicação que me ajudasse a justificar a adequação ortográfica de citação direta. Que bom que encontrei!
Já baixei o e-book e agora irei lê-lo... Abraço e muitíssimo obrigado.
Alejandro,
Foi de grande valia esta informação. Trabalho em meu TCC e algumas fontes bibliográficas que utilizo são de além-mar.O que suscitou minha dúvida era se mantinha a transcrição original lusitana ou se a calibrava para o português dos trópicos. Este teu breve artigo solucionou a questão. Muito obrigado, você é o cara!
Não dá para usar o [sic]?
Professor Alejandro como sempre ajudando, também sempre tive essa dúvida em relação a alguns textos em que eu via o erro ortográfico e não sabia se mantinha o erro ou se corrigia, mas esse pequeno artigo esclareceu muito bem... Acompanho quase que diariamente o Blog e sempre tem assuntos muito bons e importantes. Parabéns...
Prezada Raquel. Muito obrigado pelo comentário. É muito bom saber que o conteúdo do blog está ajudando. Envie suas dúvidas também, sempre que precisar. Abraços, Prof. Alejandro
Sim, é possível usar o [sic] Bia, veja este post http://www.praticadapesquisa.com.br/2013/10/afinal-o-que-significa-sic.html
Cordialmente, Prof. Alejandro
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