O poder da palavra: linguagem e produção de sentido

Para além do papel estritamente funcional, a linguagem é “viva” e nós, como seres culturais, somos parte dela. Seu caráter dinâmico emerge do fluxo das relações humanas. Quando se diz que uma determinada palavra “carrega um significado” é preciso cuidado para não reduzir esta afirmação a uma noção substancialista. Dito de outra forma, o sentido não é algo irremediavelmente “colado” nas palavras. O sentido é sempre produto de um ambiente comunicativo, um entre muitos construtos decorrentes das relações interpessoais. Assim o “poder da palavra” não está no código como representação estática, mas reside nas condições em que ele é empregado em uma dada coletividade.
Por meio das palavras é possível atribuir nomes e qualidades aos objetos materiais e também as ideias. Seu uso sempre comporta adaptações que transformam e produzem novos sentidos. Metáforas são assim. Na frase “a ética está no ‘DNA’ da empresa”, observa-se a tentativa de imprimir à ética a qualidade de fator constitutivo da organização. Ela é referida como elemento "essencial" da empresa e, neste sentido, pretensamente inafastável. Importada da biologia, a expressão “DNA” introduz ao discurso uma semântica determinista. Na biologia, o Ácido Desoxirribonucleico refere o código instrucional que “determina” a constituição biológica de seres vivos.
Assim, também a palavra “natureza”, entre outras expressões da biologia e, mais recentemente, da neurociência, são empregadas com o objetivo de conferir solidez e irrefutabilidade aos mais diversos discursos. Neste mesmo sentido, narrativas acadêmicas frequentemente introduzem categorias estranhas a campos conceituais distintos como recurso argumentativo. Zygmunt Bauman fez isto ao desenvolver o conceito de “modernidade líquida”. Esta invasão, ou transposição semântica por assim dizer, produz efeitos transformadores sobre o pensamento cujas consequências, embora não sejam totalmente previsíveis, são profundamente marcantes.
Contrária as concepções mais conservadoras da língua, a produção contemporânea de neologismos e ressignificações a partir de figuras de linguagem conferem certo tônus inovador aos discursos e, por via de consequência, apontam tendenciosamente para pressupostas legitimidades.
O “nome da rosa” não cheira, a palavra “faca” não corta, mas os significados, valores e sentidos compartilhados no mundo são produtos simbólicos constituídos a partir da linguagem.

Prof. Alejandro Knaesel Arrabal
Imagem: www.pixabay.com

4 de dezembro de 2017

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