Escrever um texto coerente com quarenta, sessenta ou até cem páginas, sem dúvida, é algo trabalhoso e exaustivo para a maioria dos alunos da graduação. Mas produzir um trabalho de pesquisa mais expressivo (como é o caso do TCC) não é simplesmente desenvolver uma longa compilação de citações, um amontoado de fragmentos de textos. Realizar uma pesquisa é viver uma experiência de construção/desconstrução de saberes a partir de uma postura intelectual engajada.
Para além da redação e da editoração do texto, a boa pesquisa exige, sobretudo, romper com o pensamento linear e a ideia de separação entre pensamento e ação. Observe: da mesma forma que não se constrói uma casa a partir da porta de entrada, também não se elabora um projeto de pesquisa exatamente na mesma ordem da sua apresentação. Em igual sentido, não se escreve um TCC rigorosamente na sequencia: introdução, desenvolvimento e conclusão.
A emergência do pensamento e a produção de texto são processos imbricados que pressupõem a transgressão da ordem posta. Para o senso comum, primeiro pensamos e depois transportamos o pensamento para o texto. Para o senso comum, conhecimento é eminentemente produto que pode ser adquirido, armazenado, interiorizado e transferido. Proponho transgredirmos esta ordem e reconhecermos que não só pensamos para escrever, mas também escrevemos para pensar. É preciso colocar em primeiro plano a experiência da pesquisa, a vivência e não o produto. Subverter a ordem que nos condena à inércia intelectual, é disso que falo.
A emergência do saber implica em uma dialógica que acolhe o movimento inverso à ordem aparente, um olhar contrário e complementar à crença do conhecimento como algo consolidado. Assim, o método de pesquisa se apresenta muito mais como rastro das ações e escolhas do pesquisador do que uma estrada que conduz à verdades e respostas prontas. Pesquisar é desvendar e, ao mesmo tempo, desconstruir o que está dado.
O pensamento exclusivamente linear não nos oferece condições para uma efetiva emancipação intelectual. Do mesmo modo, pressupor que o pensamento e o conhecimento são substâncias, contribui significativamente para uma espécie de atrofia epistêmica, em outras palavras, limita a experiência da pesquisa à processos padronizados de investigação e reprodução de informações.
Crer na pesquisa apenas como a descoberta de algo existente e no conhecimento como um produto a ser interiorizado, leva a uma conclusão óbvia, mas radicalmente equivocada: produzir um trabalho é reproduzir o que outros - mais altivos na hierarquia do saber - já pensaram, descobriram e afirmaram.
Na sociedade da informação, colecionar citações em um trabalho acadêmico é ato “sem sentido” que não alcança a eficiência e o poder das tecnologias de armazenamento, reprodução e distribuição de dados. Ocorre que a questão (o equivoco) é justamente esse! Pesquisa não é simples reprodução, um mero compilado de citações como já dito. Pesquisa é trajetória envolvente e visceralmente inquietante, por isso, prazerosa; é ação engajada e epistemologicamente transgressora, por isso, emancipadora.
Prof. Alejandro Knaesel Arrabal
Foto: www.pixabay.com
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