Teoria e Prática: mundos diferentes?

É provável que você já ouviu ou até mesmo já afirmou que: “Teoria é uma coisa, a prática é outra!” Normalmente reconhecemos a teoria como o universo dos livros, manuais, aulas, discursos ou qualquer outra forma de descrição (explicação ou idealização) do mundo. Por prática entendemos as ações concretas, não apenas o pensamento ou o discurso, mas a prática como um agir sobre algo ou em relação a algo.
Assim, a disjunção teoria/prática está ligada a noção de mundo ideal “versus” mundo real. Ao afirmarmos que “teoria é uma coisa e a prática é outra!” estamos dizendo que o mundo ideal não corresponde ao mundo real. Consideramos que o mundo ideal é eminentemente contemplativo e tem pouco ou nenhum efeito sob o plano concreto. Bom, creio que é possível questionar essa diferença. Limitar a teoria ao plano abstrato e considerá-la incompatível com o mundo fático é um equívoco.
A “teoria” que conhecemos é resultado de um olhar fragmentado e reducionista do mundo. Quando constatamos que a teoria não alcança a prática, de fato, estamos diante de uma teoria que se apresenta como uma visão parcial e radicalmente mutilada dos fenômenos sociais. Não é a teoria que está distante da prática. Esta lacuna se apresenta a partir de uma determinada concepção de teoria.
O pensamento disjuntivo limita nossa possibilidade de perceber a efetiva relação entre teoria e prática. Duas dimensões que, na perspectiva de Morin (2011), são diferentes mas complementares, constituindo uma unidade na diferença. A modernidade edificou uma determinada concepção de teoria, cujo pressuposto básico reside na especialização e fragmentação do conhecimento. A dissociação entre pensamento e ação não é uma concepção exclusiva do cientificismo moderno, já que era reconhecida pelos filósofos gregos da antiguidade. Ocorre que a modernidade aperfeiçoou esta diferença, de modo a torná-la quase que uma verdade inquestionável.
Contudo, o pensar e o agir no cenário de uma sociedade global e complexa não comporta esta disjunção. Não há teoria sem prática e não há prática sem teoria. “Todas as práticas humanas se dão orientadas por um contexto teórico que é formulado, amadurecido e desenvolvido no próprio exercício da prática” (LUCKESI, 1998, p. 21), em outras palavras, teoria e prática estão reciprocamente imbricadas.
Prof. Alejandro Knaesel Arrabal
Referências
LUCKESI, Sipriano e outros. Fazer universidade: uma proposta metodológica. São Paulo: Cortez, 1998. (Link)
MORIN, Edgar. Introdução ao pensamento complexo. Porto Alegre: Sulina, 2011. (Link)

Foto: pixabay.com

3 de março de 2015

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