Periodicamente reflito sobre as razões que levam boa parte dos alunos a manifestar pesadas queixas sobre a elaboração da monografia. Mesmo os mais aplicados não se furtam a dizer que se trata de um processo exaustivo. Uma das primeiras hipóteses que formulei sobre esta questão era que estas queixas resultavam de uma percepção estigmatizada sobre a metodologia, o pensar e o fazer pesquisa.
Atualmente desconfio que a causa determinante não seja esta. Acredito que o fator de maior impacto está relacionado ao ato de escrever. A grande massa da população acadêmica não tem o hábito da escrita. E digo mais, não só a maioria das pessoas não está habituada como também não reconhece que escrever seja prazeroso.
Escrever é uma atividade “normalmente” tida como complexa e exaustiva. Talvez se possa perguntar: mas não é “natural” que seja assim? Eu diria que não. Um dos aspectos que contribui para esta naturalização está no reconhecimento predominante da linguagem (falada ou escrita) como algo meramente instrumental e não como fator constitutivo do pensar (e consequentemente do próprio “ser”). Vivemos em uma sociedade que prima pelo utilitarismo onde a linguagem é compreendida como uma mera ferramenta – um meio e não um fim.
Na lógica utilitarista, os meios devem ser customizados para que possam atingir rápida e eficazmente os fins. Neste cenário, dedicar tempo para escrever é um desperdício. Aplicativos computacionais vão oportunizar facilidades para a redação. Redatores corrigem textos automática e instantaneamente. Plataformas de comunicação sugerem palavras e frases prontas logo após digitarmos algumas poucas letras. Somos aliciados e convencidos a limitar o texto (e por que não dizer o pensamento) a tweets de 140 caracteres.
Não nos damos conta de quão perverso é o papel da tecnologia aplicada desta maneira. Com todas estas ferramentas facilitaristas para escrever, perdemos a chance de aprender com os nossos próprios erros e pensar sobre a estrutura e a construção de frases, o que, em última instância, limita o próprio pensamento. Tudo isso em nome da facilidade e da celeridade. Creio que as tecnologias postas e aplicadas desta forma prestam um enorme desserviço à humanidade.
É preciso despertar para o entendimento que a linguagem não é apenas um meio, mas o fator constitutivo do pensamento. Em outras palavras, sem linguagem nós não pensaríamos de forma articulada. Em conjunto com as percepções estritamente sensoriais e as reações instintivas, o pensamento floresce e evolui pela linguagem.
Outro aspecto que considero responsável pela carência em relação à escrita é histórico: a cultura da elitização e segregação, pautada no tabu do “escrever errado” e da imposição de padrões rígidos na expressão linguística. Sem desmerecimento à gramática, confesso que tenho dificuldade de entender, por exemplo, o que há de tão relevante (epistemologicamente falando), na maioria das alterações determinadas pelo acordo ortográfico de 2009. Mas a questão que coloco aqui não deriva exatamente de padrões ou acordos ortográficos, deriva da postura assumida por aqueles que fazem da língua (e do conhecimento de uma maneira geral) instrumento de dominação e opressão.
Precisamos encontrar caminhos para mudar este cenário. Proponho que a mudança seja no sentido de reconhecermos o ato de escrever como algo não só necessário para o aperfeiçoamento de nossa existência (vez que a linguagem é fator constitutivo e não mero instrumento), mas como uma prática motivadora e prazerosa.
Portanto, aqui vão algumas singelas recomendações: tente incorporar a prática da escrita no seu cotidiano. Não pense nisto como um dever. Escreva a respeito do que você gosta. Encontre uma maneira de se expressar textualmente e torne esta prática um hábito.
Prof. Alejandro Knaesel Arrabal
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