Planejamento para a Construção do Conhecimento

Prof. Alejandro Knaesel Arrabal

A atividade intelectual científica pressupõe organização, ou seja, planejamento. O planejamento abre espaço para a reflexão adequada dos conteúdos, considerando quatro questionamentos básicos:

O quê?
Objeto: corresponde ao tema de estudo, o assunto. (também onde? e quando? pois o objeto de estudo situa-se em lugar e tempo).

Para quê?
Objetivos (finalidades): correspondem as intenções (ações) da pesquisa.

Por quê?
Justificativa (motivação): compreende o compromisso ético do pesquisador. Consiste nas razões que revelam a importância da pesquisa.

Como?
Metodologia: compreende a descrição dos métodos e as técnicas que serão empregadas na pesquisa (o como fazer).

Assim, uma proposta de investigação pode ser sintetizada na seguinte formulação:

Em relação a alguma coisa (objeto), quero algo (objetivo), por algum motivo (justificativa) e de alguma maneira (metodologia).

Abaixo, segue uma proposta de estrutura de projeto que o leitor poderá considerar, a fim de atender suas necessidades.


1 APRESENTAÇÃO

A apresentação do projeto normalmente contempla dados sobre a instituição de ensino em que a pesquisa será promovida, nome e informações para contato do pesquisador e de seu orientador, assim como título da proposta de pesquisa e data de início de sua realização.

2 OBJETO

Nesta proposta, o objeto contempla a descrição de cinco aspectos: delimitação do tema, formulação do problema, hipóteses, variáveis e categorias básicas.

2.1 Delimitação do Tema

Na delimitação do tema, descreva o contexto em que se insere a pesquisa por meio da enunciação dos marcos teóricos, espaciais e temporais. Explique o que será efetivamente pesquisado.

Toda pesquisa, independentemente do tipo ou classificação que adote, utilizará um referencial teórico, ou seja, uma teoria determinada, que ajudará o aluno ou o pesquisador a desenvolver o conteúdo da proposta, assim como a definir os termos ou conceitos operacionais que possibilitam uma melhor observação e compreensão da realidade que está sendo pesquisada (OLIVEIRA, 1999) .

2.2 Formulação do(s) Problema(s)

Após a realização da delimitação do tema, objeto da pesquisa a ser desenvolvida, passa-se a uma outra etapa, que corresponde à formulação do problema, ou seja, o ponto central do trabalho.

Portanto, apresente a(s) questão(ões) que irá investigar de modo que o leitor do projeto tenha, com clareza, a noção sobre o cerne da investigação. Registre objetivamente o problema através de questionamentos. Observe que perguntar é uma coisa, levantar uma pergunta de pesquisa é outra.

O problema indica a finalidade a ser seguida e está diretamente relacionado com o tema e com a delimitação do tema, já descritos.

Propõe-se que o problema será redigido em forma de pergunta ou várias perguntas, que envolvam dificuldades teóricas e ou práticas para as quais você busca encontrar uma resposta.

2.3 Hipóteses

As hipóteses correspondem às suposições sobre a formulação do problema, ou seja, representa respostas preliminares e provisórias que serão confirmadas ou não ao final da pesquisa.

Portanto, apresente a suposição ou as suposições que você tem quanto ao tema escolhido e quanto ao equacionamento do problema apresentado.

2.4 Variáveis

Variáveis são fatores de ordem teórica ou fática de realidade social, política, cultural, econômica ou técnica que podem interferir, em menor ou maior intensidade, durante a pesquisa, no tratamento do problema sob investigação e na confirmação ou não da(s) hipótese(s) (PASOLD, 1999, p. 134) .

De acordo com Lakatos e Marconi (1986), "toda hipótese é o enunciado geral de relações entre, pelo menos, duas variáveis. Por sua vez, variável é um conceito que contém ou apresenta valores, tais como: quantidades, qualidades, características, magnitudes, traços, etc..." .

As variáveis estão presentes na formulação do problema e nas hipóteses, e são identificadas a critério do pesquisador. Quando totalmente desconsideradas, podem vir a prejudicar a pesquisa ou até mesmo levar a afirmações equivocadas.

2.5 Categorias Básicas

Categorias básicas são as palavras ou expressões fundamentais à compreensão de uma idéia. Listar as categorias que envolvem o tema é uma providência que auxilia o pesquisador na identificação das bases conceituais em que atuará, alertando-o quanto a eventuais polissemias indesejáveis ou definições equivocadas.

Caso já disponha de conceitos operacionais iniciais para trabalhar com tais categorias, especifique-os. Entende-se por conceito operacional uma definição para uma palavra ou expressão, com o desejo de que tal definição seja aceita para os efeitos das idéias expostas (PASOLD, 1999, p. 49) .

Pesquisas de caráter cientifico, exigem do pesquisador precisão no emprego de conceitos e idéias. Portanto, é relevante identificar palavras ou expressões que apresentem diversidade semântica, a fim de prestar seus devidos esclarecimentos.

3 OBJETIVOS

Nesta proposta de projeto, os objetivos contemplam a descrição do objetivo institucional, objetivo geral e objetivos específicos.

3.1 Objetivo Institucional

Consiste na motivação institucional, ou seja, a razão que leva a elaboração da pesquisa no ambiente acadêmico. Considerando a monografia de final de curso para a graduação em Direito, o objetivo institucional, por exemplo, é “produzir uma monografia para obtenção do título de Bacharel em Direito, conforme exigência prevista nas diretrizes curriculares.

3.2 Objetivo Geral

O objetivo geral compreende o propósito geral da sua pesquisa. Normalmente menciona-se o fim pretendido com o tema/problema do projeto (PASOLD, 1999, p. 135).

3.3 Objetivos Específicos

Apresente aqui as finalidades específicas que pretende alcançar com as investigações. Tais finalidades são desdobramentos detalhados do objetivo geral indicado acima (PASOLD, 1999, p. 135) e da estrutura de conteúdos do trabalho.

Exemplos de objetivos (GRECO FILHO, 1999) :

a) Expor o tema de maneira sistemática, porque não está bem sistematizado;

b) Apresentar uma nova visão sobre o tema;

c) Demonstrar as divergências e as conseqüências de cada uma das posições sobre o tema;

d) Extrair conclusões e desdobramentos do tema;

e) Estabelecer o relacionamento com outras áreas e institutos que até então não se estabeleceu;

f) Demonstrar a importância prática / a repercussão social / a relevância científica / a relevância histórica do tema.

4 JUSTIFICATIVA

Justifique a importância do estudo. Mostre o valor ou o significado da pesquisa, ressaltando a quem ela serve e porque ela é importante.

Sugere-se que a redação da justificativa seja feita com uma linguagem simples e clara, sem a utilização ou contribuição de determinados autores (citações), pois ela serve para apresentar o tema (OLIVEIRA, 1999) .

5 METODOLOGIA

Nesta proposta de projeto, a metodologia contempla a descrição de sua caracterização básica, a estrutura do relatório, o cronograma e as referências.

5.1 Caracterização Básica

Informe que tipo de base lógica irá operar na pesquisa através da identificação do método investigatório e indique qual ou quais a(s) técnica(s) que irá utilizar.

5.2 Estrutura Básica do Relatório

A estrutura básica do relatório, no contexto do projeto, tem caráter referencial, ou seja, é uma indicação prévia dos títulos das seções que o trabalho poderá apresentar.

É possível que a estrutura proposta no projeto sofra alguns ajustes até a sua formulação final. Isto é natural, pois o amadurecimento do tema, ao longo da pesquisa, pode revelar novos aspectos que levam a modificar, em parte, a estrutura seqüencial do trabalho.

5.3 Cronograma

Aqui estarão todas as etapas da pesquisa (Ex: Levantamento bibliográfico, leitura e fichamento das obras, revisão bibliográfica, análise crítica do material, etc.) e de composição do relatório (redação preliminar, entrega do trabalho ao orientador, redação definitiva, entrega de 3 exemplares ao orientador), até a data de previsão para sua entrega, discriminadas mês a mês.

No cronograma, deve-se descrever as atividades que serão realizadas no decorrer da pesquisa, assim como o período temporal destinado para cada uma delas. Pode-se apresentar estas informações através de uma tabela, ou simplesmente descrever as atividades e períodos em parágrafos distintos, seqüencialmente.

5.4 Referências

Para o início da pesquisa, é necessário identificar um número básico de fontes de consulta. Portanto, arrole, conforme a NBR - 6023, as fontes que utilizou para a realização do projeto e também as que potencialmente poderá utilizar no desenvolvimento da pesquisa.


REFERÊNCIAS

GRECCO FILHO, Vicente. Palestra sobre trabalho de conclusão de curso ministrada aos alunos do curso de Direito da Universidade de Blumenau - FURB. Blumenau, 10 set. 1999.

LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andrade. Metodologia do trabalho científico. 2.ed. São Paulo: Atlas, 1986.

OLIVEIRA, Olga Maria Boschi Aguiar de. Monografia jurídica: orientações metodológicas para o trabalho de conclusão de curso. Porto Alegre: Síntese, 1999 (UNI-SÍNTESE/CD-ROM).

PASOLD, Cesar Luiz. Prática da pesquisa jurídica: idéias e ferramentas úteis para o pesquisador do direito. 2. ed. Florianópolis: OAB/SC Editora, 1999